segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Resposta a alguém que defendeu o Governo Lula pela transferência de renda e pelos programas de acesso de jovens à universidade

Todo o mérito de Lula, na presidência, são os programas assistencialistas. Desde que feito com moderação, nada tenho contra - e assim ele o tem feito. Mas em todo o resto, a atuação dele é medíocre. Não tanto pelos erros, mais pela inoperância. Não dá para aceitar isso de um cara que pega 40% de tudo que o país produz, e só não pega mais pela informalidade e pela sonegação.

Quanto aos programas de ajuda universitária, eu, por precisar entrar numa faculdade, sei o que são, e, por isso, posso dizer que são uma porcaria. Prouni e Enem beneficiam uns 300 mil jovens, quase nada para um país com 185 milhões de habitantes, no qual todos pagam impostos; fiquei profundamente decepcionado quando o gerente da Caixa me explicou o que é o Fies: financia metade do curso, cobrando 50 reais a cada três meses, e é necessário pagar todo o dinheiro emprestado de uma vez após o término do curso, com juros de 10% ao ano.

Enquanto o governo toma essas medidas que pouco mudam a desigualdade educacional, matriz da desigualdade de renda, a desigualdade educacional continua firme e forte, da mesma forma que foi com FHC e com a Ditadura: o ensino público é um dos piores do mundo; os ricos fogem da péssima gestão de seus impostos pagando, dobrado e caro, pelo ensino privado; e, no ensino superior, somente os mais ricos e/ou bem instruídos têm acesso às universidades "públicas", gratuitas, ficando, assim, todo o resto, as privadas, ao acesso do "resto", que é obrigado a pagar pelo ensino superior, e ver uma outra classe se beneficiar livremente com os seus impostos.

E, quando vejo por números como funciona a universidade "pública", eu, particularmente, passo bastante raiva: a relação de quantidade de professores por aluno é o dobro da americana, sem ter a qualidade do ensino de lá. Então, o governo poderia simplesmente aumentar o número de vagas. Mas tudo que faz são medidas pouco eficazes que perpetuam a desigualdade, de uma forma ou de outra, porque sempre um pequeno grupo de pessoas estuda gratuitamente, em detrimento de todo o resto: cotas, criação de 10 universidades (quase nada), 200 escolas técnicas (num país com mais de 5.000 municípios).

Agora... alguém tem que pagar a conta das universidades, não sai de graça. E esse é o povo. Mas os mais prejudicados são os alunos do ensino básico: 70% da receita da educação vai para o ensino superior; não acredito que haja tamanho descaso em outra nação respeitável. Acho que 30 milhões de crianças são sacrificadas em nome de um milhão de parasitas. E o sacrifício não vale a pena: mais da metade desses parasitas vêm do ensino particular, menos de 20% do total de estudantes. A principal diferença entre eles é a grau de conhecimentos básicos: os parasitas, necessitamente, têm em bom nível, diferentemente do "resto". Conheço duas pessoas com totais condições de pagar educação privada na educação superior "pública". Nos EUA, na Inglaterra, em Portugal, na China e em vários outros países, os alunos pagam para estudar em faculdades públicas. Tal política é abominável.

Acho que já deu pra mostrar um pouco do meu desprezo em relação ao Lula e seus funcionários. É visível que, no quesito educação, ele existindo ou não, não faz muita diferença: segue o mesmo padrão que FHC (com todos os erros e acertos, em todas as áreas). Além do que eu já disse, tudo o que ele faz para melhorar o ensino básico são medidas sem eficácia alguma, mas com muita propaganda: depois de longos anos na quase inércia (uns cinco, depois da reeleição ainda por cima), decide criar campeonatos de Matemática, de Português, de ciências, dar livros a alunos do ensino médio, aumentar salários de professores e criar salinhas de informática; só que ainda acho pouco para sairmos dos últimos lugares em conhecimento estudantil.

É claro que, como quase tudo que ele faz, ainda não vi na mídia tais medidas serem tomadas, exceto a compra de livros para alunos do Ensino Médio e criação de salas de informática- o que me leva a crer que, tal como as obras em usinas de energia elétrica, combater o crime, abaixar impostos, melhorar a qualidade do ensino, simplesmente está sendo adiado, empurrando com a barriga, com medidas pouco eficientes mas de forte propaganda. Curiosamente é o que defende Cristovam Buarque, ex-ministro da educação de Lula, que propôs essas medidas ao presidente, que, além de não tomá-las, demitiu-o por telefone, colocando um que promete que teremos um ensino de qualidade em 15 anos (mas, aos meus olhos, nada faz para isso). E olha que o Brasil investe, por aluno, proporcionalmente tanto quanto a Coréia do Sul, exemplo de sucesso na área, que tem um pib per capita pouco maior que o brasileiro.

O Lula pode não ser o responsável direto por tamanho descaso com a educação. Entretanto, ele possui ferramentas mais do que suficientes para mudá-la agora mesmo: um mandato com grande quantidade de votos; forte apoio popular; predominância de seu partido no Congresso; influência incomensurável na sua base parlamentar; grande quantidade de parlamentares, literalmente, comprados (até do PP, partido "teoricamente" de Direita, e do PTB, antigo opositor) com cargos públicos, visivelmente (que deveriam ser dados a pessoas qualificadas), e, na surdina, com dinheiro público sujo, roubado daquele que soa o dia inteiro para dar mais de metade do seu salário para ser roubado, devido à certeza da impunidade e da incrível falta de fiscalização; e boas condições do erário.

Prentedia mostrar minha indignação contra todos os aspectos do (des)governo atual, que nada mais faz além de seguir a linha de seu antecessor, que tanto demoniza e que tanto criticava. Só que percebi que não tenho tempo nem, certamente, sua paciência para tal. Supreendi-me com o tamanho da parte que trata apenas do descaso educacional. Existe também a ingerência em infra-estrutura, saúde, segurança, exército, relações exteriores, justiça e em todas as outras, menos no compromisso com a democracia.

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