sexta-feira, 2 de novembro de 2007

A ilusão do "remédio infalível" oferecido pelas igrejas evangélicas

Os crentes fazem propaganda de sua fé como se ela fosse a solução perfeita para todos os problemas, desde “vazio por dentro” até falência.

Os pastores, em grande maioria, recomendam pessoas com problemas [sejam lá quais forem] a buscarem a Deus, porque Ele pode ajudar seus filhos, como de fato ajuda (segundo eles) a quem o busca. Muitos ultrapassam a barreira de ser apenas o “remédio divino”, para se tornarem a fonte dos desejos mais profundos dos homens, como a riqueza, a saúde, a beleza, a paz e a felicidade. E, de quebra, Ele oferece a vida eterna – que, claro, geralmente fica em segundo plano, ao contrário do desejo do mitológico Jesus.

Mas o que é um “bom produto” sem uma excelente divulgação? Por este motivo, “investem” sem pena em publicidade e na mídia e obrigam suas ovelhas a atraírem a maior quantidade de membros possível. Assim, a Universal, através do dinheiro “arrecadado”, adquiriu uma das maiores emissoras abertas do País e outras e divulga a sua fé principalmente durante a madrugada, horário em que há maior quantidade de pessoas desesperadas, que desejam um “remédio infalível”; O RR Soares paga para aparecer em um excelente horário na Band; há vários canais góspeis; e os evangélicos vivem procurando converter, mesmo que seja na força, acreditando fazer uma boa ação. E, é claro, para diminuir a concorrência, atacam abertamente outras religiões, atacam discretamente igrejas diferentes e fazem o possível para se mostrarem como naturalmente superiores. Todo esse esforço não é em vão: funciona sim, em várias camadas sociais e com os mais variados tipos de pessoas.

Multidões vão à igreja à procura do “santo remédio para todos os problemas” que apresentaram na TV. Lá, os “consumidores” percebem que, ao contrário do que mostram nos “comerciais”, é preciso acatar obrigações e restrições e que não funciona imediatamente: necessita de tempo e depende da própria proximidade com Deus, ou seja, do grau de devoção pessoal à fé. As obrigações dependem – e muito – das igrejas que as apregoam (e, conseqüentemente, do “público-alvo” que cada uma implicitamente almeja): algumas são rígidas quanto ao vestuário e à maquiagem, outras não; algumas proíbem seus membros de freqüentarem festas, boates, outras não; algumas proíbem a prática de esportes, outras não; algumas doutrinas são benignas, como a de ajudar sempre o próximo e a proibição de roubar, mas, em geral, elas são nocivas.

Então, elas mudam seu estilo de vida, para receber os efeitos do “remédio”. A fim de gerar sempre esperanças nos fiéis, os pastores mostram constantemente os efeitos em “outras pessoas”: fulano aceitou Jesus e ficou rico; cicrano buscou a Deus e ficou são; beltrano foi fervoroso e conquistou uma libertação; mas, claro, sempre escondem os casos ruins – que existem às pencas por aí -, para não desencorajar ninguém e, sempre que elas aparecem, inventam desculpas sem nexo para justificar.

Caso aconteça um acaso muito bom qualquer a um “novo convertido” desses (designação dada a quem entrou na fé há pouco tempo), ela acredita que foi a prova de que Deus o ama, o Pastor falou a verdade, Deus e maravilhoso e tal; mas caso não aconteça nada de mais ao fiel, ele esperará a “hora de Deus”, conforme ensinam os pastores; caso aconteça algo ruim, é mais complexo: ou é ataque do demônio, ou é falta de devoção do fiel, ou é uma “prova de fidelidade divina”, ou qualquer outra explicação sobrenatural (dificilmente enxergam como problemas que podem acontecer normalmente).

Para não perderem fiéis, os pastores usam o medo: dizem que quem sai da presença de Deus está sujeito a sofrer muito, nesta vida e na “pós-morte” (este depende da igreja), para que volte e permaneça. Aqui, o preconceito e a intolerância a crenças diferentes estão muito mais desenvolvidos, e é muito difícil alguém trocar. O crente deve, conforme aprendeu, se contentar com a mediocridade da sua vida, aturar os sofrimentos por causa da fé com bravura (essa atitude e louvada no meio), evitar ao máximo contestar e deve ser manso como um cordeiro. É claro que, neste processo, muitos não seguem plenamente a doutrina evangélica, mas não estou considerando gente assim.

O pastor, diferentemente do que pede a Bíblia, normalmente não se importa com as suas “ovelhas”, apenas dão conselhos que acham corretos e “entregam na mão de Deus”, ou seja, esperam que Deus resolva, sem, normalmente, fazer nada de mais. Ao contrário do que apregoa a Bíblia, esta fé é individualista e sem profundidade: ninguém ajuda ninguém; ninguém dá abrigo a ninguém; só buscam o melhor para si mesmo. As pessoas, em muitos casos (não sempre) vivem tentando convencer terceiros a serem evangélicos como eles, graças às ordenanças que receberam; outros têm alucinações com Deus, Diabo e acreditam que isso são “profecias” ou outra manifestação sobrenatural; outros se arrependem profundamente da loucura que fizeram.

Os devotos estão “programados” para permanecerem na fé até a morte, e muitos, infelizmente, morrem nesta condição deprimente, mas outros conseguem se libertar. O “remédio perfeito” é apenas um acaso que acontece normalmente, tanto com religiosos quanto com não religiosos, mas a diferença é a de os fanáticos vivem dizendo para todo mundo.

Fim.

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